Resíduos como matérias-primas

Resíduos são gerados em grande quantidade pela sociedade pós-industrial. Um dos principais motivos é a necessidade de construir cidades e infraestrutura para as pessoas viverem e fomentarem as atividades econômicas. Isso torna a cadeia da construção o setor industrial que mais extrai recursos da natureza; e, também devido a esse motivo, é o setor industrial que mais gera resíduos.

O mundo tem experimentado um crescimento populacional significativo nestas últimas décadas. A melhoria das condições de vida das pessoas pressionam todos os ecosistemas; uso de recursos naturais não renováveis, energia, água, emissões de gases poluentes, aumento da toxicidade nos produtos, etc. É fundamental, portanto, usar menos recursos naturais e aumentar o reuso e reciclagem dos resíduos (materiais pós-uso).

A construção gera resíduos ao longo de toda a sua cadeia produtiva. Grande parte do aço produzido vai para o setor da construção. Cada tonelada de aço gerado, gera outra tonelada de resíduo (escórias, estéreos de mineração). A produção de agregados també gera sobras de materiais em grandes quantidades, muitas vezes não precebidas pela sociedade, como finos de pedreiras. Nas cidades, as construções dos edifícios, pontes, devido a falta de modularidade e industrialização dos seus componentes e sistemas construtivos geram elevada quantidade de resíduos que esgotam os aterros de resíduos urbanos das cidades. As cidades também envelhecem e muito do estoque dos edifícios antigos ficam obsoletos, gerando enormes quantidades e cada vez mais crescente de resíduos de demolição. O reaproveitamento é fundamental, para reverter esse cenário de desperdício de recursos.

O reaproveitamento pode ocorrer de forma simples, mas geralmente não na condição econômica mais desejável para o setor da reciclagem. Um dos problemas fundamentais é que os resíduos tendem a ser mais heterogêneos que determinadas matérias-primas naturais. Isso afeta e reduz o preço dessas matérias-primas secundárias, dificultando a disseminação e escalonamento desse tipo de indústria.

Apesar da variabilidade estar presente em qualquer processo industrial, é na cadeia de reciclagem que o seu controle torna-se importante. Por isso, é geralmente necessário repensar a forma como construimos ou desenvolvemos os produtos de construção, pois os mesmos não foram concebidos para serem desmontados, reutilizados ou reciclados. Isso geralmente limita a recuperação do valor econômico embutido nessas matérias-primas e produtos secundários. Esse é um tema relevante de pesquisa que o laboratório atua, concentrando esforços em melhorar a circularidade e o valor das matérias-primas dentro do que chamamos ciclo fechado de produção industrial.

Processos de reciclagem são diversos e devem ser concebidos de forma a controlar a variabilidade e critérios relevantes para o seu uso, outra preocupação e foco de atuação do laboratório em pesquisa. Não é incomum propormos e usarmos as diversas tecnologias de separação usadas na Engenharia Mineral, para melhorar a qualidade dessas matérias-primas secundárias e produtos cimentícios resultantes.

Outro fato bastante comum é a necessidade de se desenvolver novos métodos de caracterizar ou controlar, de forma diferente, determinadas características, que não eram foco de preocupação ou controle nos produtos convencionais.

O laboratório ainda utiliza as mais modernas tecnologias para se produzir e formular materiais cimentícios, sempre buscando otimizar o desempenho ambiental, econômico e técnico dos processos de reciclagem e seus produtos. Nossas pesquisas envolvem também o uso de ferramentas de avaliação de impactos ambientais e formas de medir a ecoeficiência dos produtos: aumento de desempenho ambiental e redução de custos, frente as vantagens técnicas alcançadas com a pesquisa.

Equipe:

  • Sérgio Cirelli Ângulo, Prof. Dr.
  • Vanderley M. John, Prof. Dr.
  • Maria Alba Cincotto, Prof. Dr.
  • Antonio Carlos Vieira Coelho, Prof. Dr.
  • Marco Quattrone, Dr.
  • César Romano, Dr.